Stout & Porter, diferenças e semelhanças.
Ao mergulhar na fascinante história das cervejas Porter e Stout, encontramos uma tapeçaria rica de tradições e transformações. O que começou como uma distinção simples – Stout sendo uma versão mais forte da Porter – evoluiu para uma variedade complexa e às vezes confusa de estilos e sabores.
No século 18 e início do 19, a Stout, especificamente a Brown Stout, era reconhecida como uma versão mais robusta da Porter. Essa relação é evidenciada em registros históricos e literatura da época. Por exemplo, um livro de 1810, "A General Dictionary of Commerce, Trade and Manufactures", descreve a Brown Stout como uma Porter mais encorpada, bastante exportada para a América e as Índias Ocidentais. Um caso jurídico de 1803, relatado no The Times de Londres, reforça essa ideia ao descrever uma cerveja roubada como "Porter de qualidade superior, chamada Brown Stout".
Interessante notar é que a Stout não era exclusivamente escura. A palavra "stout" significava "forte", e existiam Stouts mais pálidas, como a produzida pela Anchor em Southwark em 1805, uma cerveja de malte pale com aproximadamente 7,9% de álcool. Esta flexibilidade no uso do termo "stout" é um lembrete da evolução contínua da linguagem cervejeira.
O advento do black malt em 1817 trouxe uma mudança significativa. Este novo tipo de malte permitiu a produção de Porter mais barata, utilizando predominantemente malte pale. A prática irlandesa, adotada eventualmente por cervejarias como a Guinness, foi de usar exclusivamente malte pale e black malt para suas Stouts e Porters. Em Londres, no entanto, a tendência era misturar maltes pales, marrons e torrados.
O Whitbread Brewery de Londres oferece um excelente estudo de caso. Em 1805, usaram uma combinação de maltes pales e marrons para produzir Porter e Stout. Já em 1844, o leque de cervejas escuras havia se expandido para incluir Porter, Stout simples, dupla e tripla, todas oriundas de malte pale e marrom. A diferença entre Stout e Porter, nesse ponto, residia principalmente na força da bebida.
No final do século 19, as receitas de Porter e Stout em Londres começaram a divergir mais claramente, com as Stouts tendendo a ter menos black malt e mais malte marrom, provavelmente resultando em sabores mais doces e menos secos do que as Porters mais fracas.
A inclusão de cevada torrada nas receitas de cerveja, permitida no Reino Unido a partir de 1880, trouxe outra dimensão ao sabor dessas cervejas, embora seu uso não tenha se popularizado imediatamente. Guinness, por exemplo, parece ter começado a usar cevada torrada em suas Stouts somente por volta de 1930.
As guerras mundiais e as consequentes restrições e impostos afetaram severamente a força das cervejas britânicas. Na década de 1920, as Porters tinham em média apenas 3,6% de álcool, e as Stouts, cerca de 4,7%. A Guinness Extra Stout, que antes tinha cerca de 7,7% de álcool, caiu para 4,4% na década de 1930.
Com o surgimento da "revolução dos pequenos cervejeiros" na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos na década de 1970, uma gama diversificada de estilos e forças de Stout e Porter ressurgiu. Os cervejeiros começaram a reinterpretar e reinventar esses estilos históricos, resultando em Porters que às vezes são mais fortes que as Stouts. Competições de cerveja nos EUA incentivaram descrições de estilo microgerenciadas, muitas das quais carecem de validade histórica, mas enriquecem o cenário cervejeiro com uma variedade impressionante.
Portanto, a distinção entre Porter e Stout, embora historicamente enraizada na força, tornou-se uma tela para a criatividade dos cervejeiros. A evolução desses estilos reflete não apenas mudanças na tecnologia e ingredientes de fabricação de cerveja, mas também a contínua experimentação e inovação que define a indústria cervejeira. Hoje, quando degustamos uma Porter ou Stout, estamos experimentando não apenas uma bebida, mas uma história viva de sabor, tradição e complexidade.